quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

CLASSE MÉDIA

Como se pode pensar numa sociedade empresarial dinâmica e competitiva, sem classe média forte, exactamente uma das vítimas principais desta austeridade e que vai sair depauperada destes anos? O modelo da nossa competitividade vai assentar nos salários baixos ou numa qualificação da mão-de-obra? Ora, a degradação do sistema de ensino, já de si ineficaz, resultante inevitável dos cortes na educação, tem como consequência que vamos recuar num dos principais óbices à nossa competitividade, a baixa qualificação da mão-de-obra.
Estamos ou não a gerar uma sociedade em que as disparidades sociais são ainda mais acentuadas, logo com muito maior conflitualidade inscrita? É que "embaratecer" a mão-de-obra, ou como agora se diz "fazer uma desvalorização fiscal", vai aumentar o fosso entre os mais ricos e os mais pobres e acentuar as dualidades flagrantes da sociedade portuguesa.
Estamos a defender o emprego e vamos destruir um dos principais reservatórios desse emprego que é a restauração (e, diga-se de passagem, a economia paralela)? Ou será que por detrás do ataque fiscal à restauração existe uma ideia de que ela representa um atraso no nosso tecido empresarial, que consome recursos que são precisos para reindustrializar, mesmo com empresas de pequena dimensão, e que seria melhor para o pais que o parco dinheiro com que se abre um café ou um restaurante de esquina deveria ir para criar uma empresa de costura ou de sucatas ou de rolhas, como acontecia por todo o lado no concelho de Vila da Feira, ou a fazer cobertores como durante a guerra colonial? É que, se é assim, não se percebe nem a política, nem os seus instrumentos sociais.

VERSÃO DO J.O PUBLICO 3.12.2011

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