A notícia correu mundo, a Ministra do Trabalho italiana chorou em público, embargou-se-lhe a voz quando ia anunciar sacrifícios aos pensionistas. E a sua angústia foi tão grande que não conseguiu acabar a frase, ficou a tentar conter as lágrimas, aquela bola na garganta a sufocá-la, as lágrimas a saltarem, teimosas, e o braço amigo e respeitoso do Primeiro Ministro a seu lado, compreendendo o esforço impossível.
É uma cena única e profundamente emocionante. Não estamos habituados a manifestações genuínas de comoção perante a gravidade do que se anuncia às pessoas lá em casa, coladas ao écran. Estamos habituados a vozes iradas, a prós e contras, a contas, a milhares de contas, a milhões, biliões e trocos, sim, já não acreditamos que a política possa envolver pessoas de carne e osso, que pensem, amarguradas, no impacto que o que decidiram vai ter na vida das pessoas de carne e osso.
Porque chora a Ministra? Porque é mulher, dirão alguns, ironicamente, porque não está preparada para a política, dirão outros, hesitantes. Porque tem toda a razão em chorar, dirão, felizmente, muitos outros, e é maravilhoso que se encontre alguém que teve a coragem de integrar um Governo que sabia que tinha que fazer isto, é um raro sinal de esperança, porque significa que ela tem plena consciência da gravidade do que tem que decidir. Porque, sabendo e sofrendo com isso, terá certamente a maior cautela, a maior prudência e a maior ponderação nas suas escolhas. Uma pessoa assim talvez não faça cálculos politiqueiros, somas manhosas e golpes de bastidores. Uma pessoa assim, tenhamos esperança, não rejubilará com vitórias pessoais, com ganhos de poder, com notícias de favor. Uma pessoa que chora, sentidamente, quando pensa no que vai fazer sofrer.
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quarta-feira, 7 de dezembro de 2011
sábado, 2 de julho de 2011
Mário Soares
Mário Soares critica silêncio «estranho» de Cavaco face à crisePor Redacção
O antigo presidente da República Mário Soares considera que Cavaco Silva podia ter feito mais para evitar a crise em Portugal, sublinhando que o actual chefe de Estado ficou «estranhamente silencioso» face ao que se passava.
«O presidente da República ficou estranhamente silencioso. Fiz-lhe um apelo público ´angustiado´ para que evitasse a crise. Quanto a mim, podia tê-lo feito», afirma Mário Soares no livro «Portugal Tem Saída – Um Olhar Sobre a Crise», uma reflexão do socialista e da jornalista do Público Teresa de Sousa que será lançado na segunda-feira.
O fundador do PS lembra que Cavaco «alegou o facto de as coisas ´terem sucedido com muita rapidez´ o que lhe retirou margem de manobra». «É uma explicação seguramente verdadeira, mas faz-nos reflectir. Sobretudo depois da promessa que fez aos portugueses de exercer uma magistratura de influência mais activa», analisa.
Mário Soares considera que a oposição «falhou» quando levou à queda do Governo de José Sócrates e que o PSD «não teve qualquer vantagem em ter precipitado a crise política, no momento em que o fez». Diz ainda que «há grupos» dentro do partido que não gostam de Passos Coelho e que só o queriam como primeiro-ministro para o destruir.
O antigo chefe de Estado justifica, depois, a derrota do PS nas eleições legislativas com o facto de o partido ter tudo «sempre tudo contra ele à direita e à esquerda».
De José Sócrates, afirma que foi «um líder forte», com «grandes virtudes» e também «alguns defeitos».
Já sobre a União Europeia, Mário Soares criticou o neoliberalismo e o capitalismo imposto e o tipo financeiro e especulativo que daí resultou.
«Muitos europeus começam a compreender que a União, ou muda o seu modelo económico-social, ou entrará em irreversível decadência e, por ventura, mesmo em desagregação».
11:08 - 02-07-2011
O antigo presidente da República Mário Soares considera que Cavaco Silva podia ter feito mais para evitar a crise em Portugal, sublinhando que o actual chefe de Estado ficou «estranhamente silencioso» face ao que se passava.
«O presidente da República ficou estranhamente silencioso. Fiz-lhe um apelo público ´angustiado´ para que evitasse a crise. Quanto a mim, podia tê-lo feito», afirma Mário Soares no livro «Portugal Tem Saída – Um Olhar Sobre a Crise», uma reflexão do socialista e da jornalista do Público Teresa de Sousa que será lançado na segunda-feira.
O fundador do PS lembra que Cavaco «alegou o facto de as coisas ´terem sucedido com muita rapidez´ o que lhe retirou margem de manobra». «É uma explicação seguramente verdadeira, mas faz-nos reflectir. Sobretudo depois da promessa que fez aos portugueses de exercer uma magistratura de influência mais activa», analisa.
Mário Soares considera que a oposição «falhou» quando levou à queda do Governo de José Sócrates e que o PSD «não teve qualquer vantagem em ter precipitado a crise política, no momento em que o fez». Diz ainda que «há grupos» dentro do partido que não gostam de Passos Coelho e que só o queriam como primeiro-ministro para o destruir.
O antigo chefe de Estado justifica, depois, a derrota do PS nas eleições legislativas com o facto de o partido ter tudo «sempre tudo contra ele à direita e à esquerda».
De José Sócrates, afirma que foi «um líder forte», com «grandes virtudes» e também «alguns defeitos».
Já sobre a União Europeia, Mário Soares criticou o neoliberalismo e o capitalismo imposto e o tipo financeiro e especulativo que daí resultou.
«Muitos europeus começam a compreender que a União, ou muda o seu modelo económico-social, ou entrará em irreversível decadência e, por ventura, mesmo em desagregação».
11:08 - 02-07-2011
domingo, 26 de dezembro de 2010
Noticia
O crescimento dos salários, e o aumento progressivo dos benefícios sociais e das regras de segurança no trabalho, ao longo de décadas, potenciaram dois fenómenos que a prazo condenariam as sociedades dos Estados Unidos e da Europa ocidental a uma espécie de fim do trabalho: a substituição do labor humano pela rotina das máquinas, e a fuga de capitais em busca de mão-de-obra barata, tornada possível e apetecível à medida que os governos foram destruindo as barreiras alfandegárias que outrora filtravam e taxavam a circulação do dinheiro e das mercadorias. A exportação literal das economias dos países ricos e poderosos da América do norte e da Europa ocidental para as regiões e países ricos em matérias primas ou trabalho baratos, ocorrida nos últimos trinta anos, em grande medida graças à abundância de petróleo barato (apesar da crise de 1973-74), conduziu a uma alteração radical da divisão mundial do trabalho, com implicações dramáticas nas balanças comerciais e de pagamentos dos principais países produtores e consumidores de bens transformados. As novas economias emergentes especializaram-se na produção de bens transaccionáveis, e as velhas economias industriais especializaram-se, por sua vez, na produção de bens virtuais e serviços, no consumo irracional e no endividamento. O desastre teria fatalmente que ocorrer um dia.
Se nada se fizer, o equilíbrio regressará pela via dos impactos catastróficos dos aumentos imparáveis dos preços da energia, dos transportes, das matérias primas, e dos bens de consumo essenciais. No entanto, para evitar um ajustamento trágico das economias dos vários cantos do planeta, é possível, e sobretudo desejável, regressar a formas razoáveis de proteccionismo das economias regionais e nacionais. Seria mais racional, justo e eficiente do que deixar a guerra financeira mundial actualmente em curso seguir o seu perigoso curso de insensibilidade e ganância.
Se nada se fizer, o equilíbrio regressará pela via dos impactos catastróficos dos aumentos imparáveis dos preços da energia, dos transportes, das matérias primas, e dos bens de consumo essenciais. No entanto, para evitar um ajustamento trágico das economias dos vários cantos do planeta, é possível, e sobretudo desejável, regressar a formas razoáveis de proteccionismo das economias regionais e nacionais. Seria mais racional, justo e eficiente do que deixar a guerra financeira mundial actualmente em curso seguir o seu perigoso curso de insensibilidade e ganância.
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