“MAGNIFICAT” DE ÁLVARO DE CAMPOS
Cada poema é um encontro,/ no processo em que é escrito/ tanto como no processo em que é lido. Encontrei há muito tempo este poema/ e sei que de repente ele me veio cortar a respiração/ e ferir-me com a terrível consciência/ de que nunca poderemos sair do nosso próprio ser,/ nem pela vida nem pela morte. Cárcere do ser, li mais tarde no mesmo Álvaro de Campos. Mas o soco que o poema dá em nós (“e a dor dói como um soco”, Alexandre O’Neill) só o sentimos bem nesses momentos em que da ideia se passa ao espanto quase físico do encontro com uma verdade de nós que nós não sabíamos. O poeta é afinal aquele que sabe dar-nos de surpresa um soco no mais fundo do que somos. Para com isso aprendermos a ver melhor o esplendor do mundo.
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