sexta-feira, 27 de setembro de 2013

NOVA POLITICA

O ministro Poiares Maduro, no estilo bastante arrogante com que faz declarações, diz que quer "uma nova cultura política para Portugal", coisa que ele sabe o que é, escolheu no lote de "culturas políticas", e que nos acena como "melhor". Repare-se que ele não se fica por pedir uma outra política, ou outras práticas políticas, quer nem mais nem menos do que uma "nova cultura política", ou seja, que pensemos de forma diferente. Muito bem. Embora eu não saiba o que é essa "nova cultura política" que não temos (e que se percebe que, no entender do Ministro, resistimos a ter), sei qual é a que temos, sei muito bem qual é a que o primeiro-ministro, o vice-primeiro-ministro, o Governo e o actual poder têm. E sei que sem essa "cultura política" ser combatida, não há nenhuma "nova cultura" que se imponha e muito menos uma "melhor cultura política". E sei muito bem qual é o contributo que o ministro Poiares Maduro pode dar para essa "nova cultura política": demitir-se de imediato e denunciar o discurso, a prática, a linguagem do actual poder, a mais velha e perniciosa cultura política que existe em Portugal, uma mistura de muita ignorância, apego ao poder, desprezo pelos portugueses, partidocracia e dolo. Em que casa é que ele pensa que está? Mas Poiares Maduro entrou para o Governo para substituir Relvas como ministro da propaganda, portanto a "novidade cultural" que podia trazer seria de imediato incompatível com o cargo e as funções se ele fosse menos ambicioso e se se respeitasse intelectualmente a si próprio, ou seja, se tivesse uma outra "cultura política". Ele não podia deixar de saber ao que vinha e para que vinha. E sabia-o tão bem que de imediato se colocou na função de repetidor da propaganda governamental naquilo em que ela é mais dolosa, função que tem desempenhado até ao dia de hoje, como circulador de falsos argumentos e de afirmações manipulatórias. O intelecto e a arrogância ajudam, a subserviência acrítica de muita comunicação social faz o resto. Um bom exemplo foi dado logo numa das suas primeiras entrevistas à TVI, onde se percebe muito bem ao que vem: dar uma cobertura intelectual e de falso "saber" àquilo que em bruto repete qualquer deputado das filas de trás do PSD e do CDS na Assembleia. Nessa entrevista (sigo o resumo do PÚBLICO), dada em meados de Junho de 2013, afirmou "que a coligação governamental PSD/CDS é "muito coesa" por comparação com outras existentes na Europa" e teorizou dizendo que isso até era uma vantagem porque as ""várias perspectivas" dos diferentes membros, que sendo discutidas e consensualizadas, dão valor às políticas públicas". E ainda, do alto da sua sabedoria europeia, afirmou que "em Portugal temos uma coligação muito coesa", por comparação com "governos de coligação na Europa que têm divergências muito fortes, como no Reino Unido e na Holanda". E insistiu que não havia "qualquer indicador para achar que esta é uma coligação a prazo". Quinze dias depois, Paulo Portas pedia a demissão, seguindo-se o psicodrama que conhecemos. Tenho a certeza de que Poiares Maduro teria argumentos profundos para explicar como tudo o que se passou foi excelente para mostrar a "coesão" da coligação. Ingleses e holandeses olharam com pasmo para o "valor" que a crise deu "às políticas públicas" da coligação milagrosa, só os mercados é que não se convenceram e perdemos uns milhões pelo caminho. Estes ao menos não podem ser assacados aos reformados. Na mesma entrevista, repetiu todas as mentiras governamentais, na mesma linguagem orwelliana de propaganda, que é sua função no Governo produzir.Garantiu que não iria haver despedimentos nos professores, e ensarilhou-se com os duodécimos dos subsídios cujo atraso se devia a um "conflito de normas": "O que devia ser pago no Natal será, e o Governo já está a pagar o de férias desde Janeiro." Não era verdade, até porque o Governo não contava pagar dois subsídios, mas não tem importância. Relvas diria o mesmo, sabendo que estava a mentir sem problemas, mas Maduro traz a vantagem de usar o doubletalk em todo o seu esplendor, ou seja, entende que basta mudar um nome a uma coisa para essa coisa não ser o que é, mas outra. FONTE:BLOGUE DE PACHECO PEREIRA

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